O passo que todes pulam ao abrir o relacionamento

Regiane Martins
6 min readMay 4, 2021
Fonte: unsplash

Vocês tiveram horas de discussão sobre como será o relacionamento não-monogâmico de vocês? Confere.

Vocês escreveram uma lista de limites, regras e expectativas? Confere.

Vocês criaram perfis no Tinder que honestamente detalham o que estão procurando e o relacionamento de vocês? Confere.

Vocês leram juntos ao menos 3 livros sobre não-monogamia? Confere.

Vocês se seguem e escutam ao menos 3 podcasts sobre o assunto? Confere.

UHUL! Vocês estão prontos!

Abriram o relacionamento, tiveram seus primeiros encontros e BOOM! Discussões, paranóias, ciúmes, falhas de comunicação, gritos, choros e corações partidos. Um mês depois vocês não se reconhecem, estão prestes a chamar ume terapeuta de casal, se divorciarem e esquecerem que algum dia abriram a relação (ou todas as opções acima).

O que diabos aconteceu?

O que vocês não perceberam enquanto viviam no casulo da monogamia é o quanto esse modelo de relação é um terreno favorável e fértil para a codependência.

Quer dizer que vocês não vão juntes ao banheiro? Eu sei. Eu não disse que vocês estavam em níveis de codependência que precisem de ajuda psiquiátrica.

Mas a monogamia gera codependência e chama isso de “romantismo” a maior parte do tempo. Não acredita em mim?

Pense naquela história do casal que, por 50 anos, nunca tiveram uma noite sequer sem jantarem juntes à mesa? Leia novamente e perceba o quão perturbador isso é.

E aquela história do casal onde ume morre de “coração partido” logo depois da morte de outre? (Esqueça a diabetes e insuficiência cardíaca, você está destruindo o romance da coisa!) Novamente…. perturbador.

Ou então aquele casal que nunca briga, sempre compartilham dos hobbies ume de outre e se tornam amigues des amigues de outre? Então elus compartilham todos os sues hobbies e amigues… o tempo todo… juntes… nunca separades, exceto quando o trabalho obriga.

Perturbador… perturbador… perturbador.

Essa codependência, onde você deixa de ser um indivíduo em si mesmo e vocês se tornam “uma só carne”, como Brumar (Bruna Marquezine e Neymar), ou JayOnce (Jay-Z e Beyoncé). Esses apelidos… perturbadores.

O passo que todo mundo pula nesse processo não é nem relacionado a abrir a relação em si, mas em ter certeza que vocês mantêm suas identidades como indivíduos dentro do relacionamento.

Mas que passo é este?

DESEMARANHAMENTO

Desemaranhar significa trazer à tona sua individualidade e a de sue parceire. E muitos casais são tão ruins nisso que planejam manter a codependência mesmo em uma relação não-monogâmica.

“Vamos encontrar alguém para dividir!”

“Vamos olhar o Tinder juntes!”

“Vamos fazer os encontros em casa para que e outre esteja presente!”

Ora, mais vocês já ouviram falar de um casal do Facebook que jura que funcionou para elus!

Quando leio histórias assim, tendo aberto uma quantidade razoável de relacionamentos, minha reação imediata é tentar adivinhar qual das partes vai desabar primeiro. Geralmente, é aquela que não foi a primeira a ter o primeiro encontro ou que tem problemas em encontrar parceires.

Bora lá… imagine a situação.

Sue parceire fala com alguém novo e deixa de contar um detalhe por mais de 30 minutos? MENTIROSE! Sue mentirose trapaceire de uma figa!

Elu vai a um primeiro encontro e não dá notícias por mais de uma hora? Ora, esse era o plano delu o tempo todo! Elu te enganou para abrir a relação, na verdade já estava conversando com essa pessoa por meses, aguardando uma forma de fazer isso acontecer.

Elu encontra alguém para conversar quase imediatamente (na sua cabeça)? Elu está fugindo de você o mais rápido possível para ir embora com essa pessoa!

Amigue, onde foi parar seu cérebro?

Quem é essa pessoa paranoica vivendo na sua pele?

Esse artigo não é longo o suficiente para explicar a transformação que aconteceu e por que você está ligando essa nova “válvula de escape” de sue parceire a uma espécie de plano secreto para te jogar aos leões sem se importar com os seus sentimentos.

Basta dizer, querides, que vocês pularam um passo.

Desemaranhar vai ajudar em 90% disso. É muito simples e vocês podem fazer isso antes de ter um primeiro encontro.

PASSO 1: Escolha uma noite. Qualquer uma. E saia.

Isso mesmo. É a sua noite! Se for uma terça, aproveite o chopp em dobro! Elu escolhe uma noite também. Se elu escolheu quinta, partiu karaokê!

Você pode sair com es amigues ou só, mas você NÃO PODE ir com sue parceire. Sue parceire não tem que, necessariamente, ficar em casa, mas elu não pode ir junto.

Outra regra: vocês não podem escolher a mesma noite.

Aha! Boa tentativa, mas vocês têm que escolher noites diferentes. Isso vai ajudá-les a não cair na armadilha do “você não pode ter um encontro hoje porque eu não vou ter um também!”. Isso é um buraco de desespero e controle em que vocês não vão querer cair.

E aqui vai um desafio divertido para quando você pegar o jeito da coisa: tente NÃO perguntar aonde a pessoa está indo ou com quem ela vai sair até que ela volte.

Isso mesmo. Você também pode trabalhar seus “músculos da confiança” usando as noites para afirmar suas individualidades.

PASSO 2: Torne a noite aleatória

Passe uma noite de final de semana aqui ou ali. Faça isso para que nenhuma noite esteja fora de cogitação para sair e se divertir. Sim, vocês que têm crianças também podem fazer isso. Isso significa que sue parceire ficará em casa com as elas. Isso também vai combater sua codependência como mãe/pai e permitirá que sues filhes saibam que sobreviverão sem você. E, acredite em mim, elus irão.

À essa altura do campeonato, você e sue parceire continuam apenas saindo uma vez por semana: para ver amigues, ir ao cinema, comer algo, mas NÃO para ter um encontro.

PASSO 3: Sinta-se confortável em convidar sue parceire para sair

De repente, você notará que você e sue parceire estarão planejando suas noites juntes outra vez.

Escutem, casais casados e entediados, vocês agora têm de perguntar “podemos sair no sábado, ter um jantar juntos e talvez ir ao…?”

Uma vez que vocês se pegam tendo que perguntar ume ae outre se elu pode ir àquele encontro, porque elu não pode mais presumir que é done do seu tempo em todos os seus dias, aprendam a ficar bastante confortáveis com isso.

É um passo simples. Você sabe como ter um encontro e namorar, certo? A relação pode até dar uma apimentada! ;-)

PASSO 4: Agora, e só agora, vá encontrar outras pessoas

Pegue leve e não mude imediatamente todas as suas noites fora para noites de encontro. Tente usar apenas 1 dia por mês para encontros. Depois de 4 meses, use todos as noites fora, se quiser. Então durma uma noite fora no mês 5, passe uns dias com a pessoa no mês 6 e assim por diante.

AVISO: Pessoas são péssimas seguindo planos. Isso significa que isto é apenas um guia geral. Sempre e em todo o tempo em que estiver em encontros ou com sue parceire, diga ume ae outre ou a si mesme: “Eu sou humane. Isso significa que às vezes vou ser impulsive, às vezes vou ser idiota. E, sabendo disto, vou colocar o pé no freio e ir com calma quando perceber que estou indo rápido demais.

CONCLUSÃO

Pulando o passo do desemaranhar, você não cria para sue parceire e para si mesme a imagem nítida de que são indivíduos separados. E, então, não aprende lições-chave antes de se relacionar, como:

Mesmo que elu tenha tempo só, elu continua me amando.

Eu não vou me deitar em posição fetal e morrer porque estou só.

Ter vidas individuais nos faz ser pessoas mais interessantes e isso fortalece nosso relacionamento.

E várias outras…

Então, pelo amor de sua relação, tire algum tempo e adicione esse passo aos seus planos de abrir o relacionamento. Assim, você salvará não só o mundo e seus vizinhos, mas também você mesme da agonia de ter suas emoções feridas de uma vez só ao invés de desemaranhá-las lentamente.

Traduzido e adaptado de: https://medium.com/@PolyamorySchool/the-most-skipped-step-when-opening-a-relationship-f1f67abbbd49

Disponível em PDF: https://drive.google.com/file/d/107hwWGfJjjGB4N2I3YDpOGP7S_oSvFv1/view?usp=sharing

Agradecimentos:

Teresa Ferreira e Ary Luz, obrigada pela mãozinha na tradução/revisão do texto ♥

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Regiane Martins

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